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Vandré: A quebra de um mito


O Dossiê Globo News exibiu neste sábado (25 de setembro) uma entrevista histórica. Depois de quatro décadas de isolamento, o cantor e compositor que se transformou em um dos maiores enigmas da MPB resolve finalmente quebrar o silêncio, em entrevista exclusiva à Globo News. Autor de clássicos como “Disparada” e “Pra Não Dizer que Falei das Flores” - transformada em hino de manifestações contra a ditadura militar - Geraldo Vandré, que se define com um artista que fazia música brasileira, canção popular, deu uma entrevista ao repórter Geneton Moraes Neto no dia em que completava 75 anos de idade. Desde que voltou do exílio, no segundo semestre de 1973, ele não falava para a TV. Ao mesmo tempo histórico e muito elucidativo, para entendimento da estranha vida de Geraldo Vandré, foi triste ver que ele é hoje um fialho de luz bem distante da estrela que brilhou no fim da década de 60. Geneton soube conduzir a entrevista, buscando a realidade dos fatos, que Vandré em muitas vezes não recordava. Ele confirmou que está em exílio desde o fim da década de 60, todos voltaram (Caetano, Gil, Chico) e ele não. A partir dali acabou a carreira, “Não tive mais carreira.” Disse que aceitou este exílio porque “é outro país, não é o meu. Mudou demais. Naquele tempo não tinha presidente. Agora você tem, não tem? Pois, bem. Eu não tenho. Não tinha e continuo não tendo. Eu tenho outras coisas a fazer, eu fui expulso do serviço público por causa dessa canção (Para não dizer que não falei das flores). O que você chama de governo cobra impostos sobre o meu crime. Sou advogado, de outra época, do tempo em que se estudava leis nesse país. Antes havia lei e se estudava leis.” Perguntado se os jovens de hoje deveriam saber quem foi Geraldo Vandré, respondeu que deveríamos perguntar isso para o governo deles, “Você não tem governo? Pergunta para o governo quem foi Geraldo Vandré.” Ele ainda continua compondo e, curiosamente, carregava no bolso de sua gola pólo uma canção que fez para o exército azul, “Fabiana” é o nome da canção. Negou que foi preso e torturado e disse que se importava em ficar longe da realidade que estamos inseridos. “Para não dizer que não falei das flores” é uma crônica da realidade que talvez tenha sido mal interpretada, “Não é música de protesto, é música brasileira. É uma crônica da realidade, talvez.” Lembrou do fato da entrevista de Brasília, que seria sua chegada ao país ser uma farsa, pois ele já estava no país a 2 meses... Infelizmente não conseguiram registros históricos como o vídeo da “chegada” de Vandré do exílio e sua apresentação no festival de 1968.

Ao final, Sérgio Chapelen concluiu que Vandré mora num país de um único morador, ele mesmo... Concordo. Ele talvez esteja mais feliz, ou menos triste, num mundo onde se pode ignorar certas coisas, às vezes a ignorância é uma delícia. E Geraldo Vandré merece se livrar dessas amarras que lhe demos, ele merece, se possível, ser feliz. Salve Vandré e todos que lutaram contra o totalitarismo... Pra mim você não perdeu importância.

  • “Eu não faço qualquer coisa”, (sobre afirmativa contrária de Gilberto Gil);
  • “Sou mais inútil: um advogado numa terra sem lei”;
  • “Não existe nada mais subversivo que um subdesenvolvido erudito”;
  • “Estou exilado até hoje: ainda não voltei”;
  • “A vida não se resume a festivais”;
  • “Caminhando é uma crônica da realidade. Deu no que deu”;
  • “Nunca fui anti-militarista. Nunca fui militante político”;
  • “A maior loucura do homem é voar”

Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores

Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Caminhando e cantando
E seguindo a canção...

Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer...(2x)

Pelos campos há fome
Em grandes plantações
Pelas ruas marchando
Indecisos cordões
Ainda fazem da flor
Seu mais forte refrão
E acreditam nas flores
Vencendo o canhão...

Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer...(2x)

Há soldados armados
Amados ou não
Quase todos perdidos
De armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam
Uma antiga lição:
De morrer pela pátria
E viver sem razão...

Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer...(2x)

Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Somos todos soldados
Armados ou não
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não...

Os amores na mente
As flores no chão
A certeza na frente
A história na mão
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Aprendendo e ensinando
Uma nova lição...

Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer...(4x)

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