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Mestre Penna

Àquele que teve a paciência de iluminar o caminho de quem queria viver no Escuro
“Professor não é o que ensina, mas o que desperta no aluno a vontade de aprender.”
Jean Piaget

Um choro de criança pode ser político (como me disse um amigo), mesmo assim, sempre questionei a verdadeira necessidade da política. Aprendi desde cedo que a pior coisa que existe é o político, todos são ladrões e vigaristas. E isso contribuiu em muito para me desviar do caminho.
OSWALDO PENNA, conforme encontrei no site subversivos.com, “sempre foi uma figura controvertida e os velhos comunistas sempre criticam sua auto-suficiência, entretanto temos que resgatar o passado como um todo, sem sectarismo de nenhuma espécie. Conheço pessoas que irão criticar a inclusão de seu nome neste site, mas que ao mesmo tempo, mantém alcagüetes confessos nos quadros funcionais das entidades que dirigem. É o velho instituto dos dois pesos e duas medidas!
Penna foi tesoureiro do Partido Comunista no município de Bauru, no distante ano de 1946, quando da sua legalização e sempre manteve atividades ligadas ao movimento operário no centro oeste paulista, atividades que renderam inúmeras fichas nos arquivos da repressão. Em 1964 conseguiu fugir, escapando desta forma da prisão, mas todas suas atividades eram vigiadas pelos agentes do DOPS. Em novembro de 1970, juntamente com Arcôncio Pereira da Silva, Milton Bataiola e João Baptista Dias, foi preso e encaminhado ao Quartel do Exército de Lins-Sp. Prisão esta clandestina, que não consta dos arquivos da repressão. Podemos discordar das atitudes de Penna, mas jamais poderemos ignorar sua participação ao lado da classe trabalhadora até meados da década de 60.”
Representante e um pouco desiludido da esquerda, o conheci, já bem velho quando editava sua revista “Cadência”. Enquanto montávamos a revista, ele me desconstruía num exercício de reeducação ética e política, no melhor dos sentidos de criar balisadores para tomada de decisões.

Uma história
Em determinada noite de 1998, Oswaldo Penna se virou pra mim e disse que precisava de companhia para levá-lo a inauguração de uma grande Casa Noturna que inauguraria naquela noite em Bauru. Disse que o levaria sem problemas mas não teria como esperá-lo, porque não havia sido convidado, no que ele respondeu: Você é meu convidado, vem comigo. Lógico que ele não possuía mais do que no máximo um convite, como dois entrariam. Lá chegando, simulou um ataque e disse que um velho precisava de quem o ajudasse e entrei, com uma desculpa piegas dessa. Essa é uma das melhores passagens desse cara que realmente me fudeu a vida a vida. Em sua gentileza me deu consciência política, sempre paciente e acreditando que talvez saísse alguma coisa de minha pessoa, do que piadas bestas e frases feitas que nessa época já possuía aos montes.

Estratégia Penna
Alem de bom papo, era um excelente contador de histórias. Sempre tinha uma coisa nova em algum ponto de nossa conversa que me colocava em dúvida e me inspirava a vontade de conhecer. Ele chegava, ou como em algumas vezes eu ia até ele, começávamos a conversar sobre qualquer coisa e num determinado momento ele soltava um “Pô você não conhece tal música, tal autor, tal editor” e ainda emendava “Já que vai conhecer o trabalho, estuda a vida dele também” E foi assim, desse jeito óbvio, simples e singular que ele conseguiu me foder a vida. Numa dessas conversas ele me perguntou se eu conhecia Woyzeck, peça baseada em fatos reais da vida de Johann Christian Woyzeck (1780-1824) pelo autor alemão Georg Büchner. Devido à sua morte em 1837 (aos 23 anos de idade), a peça permaneceu inacabada. Cobaia de uma experiência, debilitado fisicamente, confuso, sem voz ativa e sem qualquer crédito com relação a seus questionamentos, traído, sozinho, Woyzeck ainda busca tirar satisfações e lavar sua honra provocando uma briga com o Tamboreiro-mor que tinha um caso com sua mulher, levando uma surra. Humilhado e em total desespero, Woyzeck deixa seu testamento com Andrés (um amigo), chama Marie (sua esposa) para um passeio e a mata a facadas. Nem o filme eu conhecia, dirigido por Werner Herzog em 1979.

Minha pequena homenagem ao Mestre
No dicionário professor é aquele que professa, seja uma crença ou uma religião. E você só pode professar sobre algo em que acredita, confia e segue. Tive o privilégio de ter o Penna como um grande professor,e só percebi que ele me ensinou realmente muito tempo depois. A melhor mudança é aquela que não é sentida, e Penna transformou água em pedra, me fritou com seu conhecimento e suas idéias, sem ao menos perceber que estava morrendo e nascendo outra coisa, mais cética, crítica e conhecedora de seu papel no mundo. Que todos tenham a chance de encontrar alguém que lhe torne a vida um desconforto ideológico, como a minha, esse é o tempero, é o caminho do herói, significa ir até a caverna do dragão, encará-lo, dar um pau nele e voltar, com uma boa história e vivo, dignificado pelo ato praticado...
A ignorância é uma graça de Deus. Deus Salve a Ignorância do mundo, porque a minha já era, Oswaldo Penna a matou atropelada. E Penna tinha razão, um choro de criança é um ato político.

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